ANNÍBAL BIANCHINI DA ROCHA

SOBRE

ANNÍBAL BIANCHINI DA ROCHA

"Muitos pioneiros tiveram um papel decisivo para consolidar Maringá como uma das melhores cidades do país para se viver. essa qualidade de vida é percebida pelas ruas, avenidas e praças por onde sentimos o prazer de circular entre frondosas árvores que nos presenteiam com suas floradas em diferentes períodos do ano. Sem desmerecer nenhum personagem de nosso passado, existem aqueles que se destacaram acima da média, devido ao seu envolvimento mais ativo em prol de ações para toda a comunidade. Um professor me disse certa vez que por mais que a gente faça, parece que nunca será suficiente para chegar próximo ao que algumas pessoas fizeram. Sem dúvidas este é o caso de Anníbal Bianchini da Rocha, o "Jardineiro de Maringá" " - Miguel Fernando Perez Silva - Maringá Histórica

Transcrição do Vídeo:


Anníbal Bianchini da Rocha nasceu em Santos no dia 17 de outubro de 1928. Filho do comerciante português Anníbal Lourenço da Rocha e da professora Júlia Bianchini da Rocha chegou a Maringá em 1952, depois de comprar dois anos antes uma área para o plantio de café em Uniflor. Ter um pedaço de terra para atuar como agricultor e era um sonho que Bianchini trazia consigo desde muito jovem. Foi por volta de 1949 quando cursava engenharia agronômica na tradicional Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a ESALQ em Piracicaba, que descobriu oportunidades no norte e noroeste do Paraná por meio de ampla propaganda que foi disseminada pela então Companhia de Terras Norte do Paraná. Essa empresa em 1951 teria sua razão social alterada para a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. No patrimônio de Uniflor em uma propriedade com 35 alqueires, Anníbal derrubou a mata e preparou a terra com recursos emprestados de seu pai. Em 1950 a Fazenda Santa Júlia recebeu as primeiras 32 mil mudas de café. Contudo, Bianchini recebeu um convite inesperado e irrecusável: 

"E eu a primeira visão de Maringá eu tive antes de morar aqui, foi em 1949, a cidade estava ainda com 2 anos. Aí realmente foi choquante, foi quando eu vim comprar meu lotinho aqui. Aí foi chocante, eu achei que dificilmente ia sair uma grande cidade. Mas depois que em 52 que eu vim para cá, e já vi 2 anos, 3 anos, quanta a coisa que já tinha sido feita e quantos projetos iriam ser realizados, e era dia e noite chegando mudança aqui, eu ficava no posto Maluf... era uma caravana de mudanças... olha era semelhante a conquista do oeste americano." - Anníbal Bianchini em entrevista concedida na sede da CMNP, em 1984.


A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná acabou formalizando a proposta para que Bianchini prestasse serviços de engenheiro agrônomo ao seu escritório. Assim, o santista se viu com o seu empreendimento em formação e com uma ocupação profissional com a colonizadora da região.
Mas havia uma condição que Anníbal fez diretamente ao diretor gerente da companhia Hermann Moraes Barros: só viria de se casar.
Aparecida Tereza Azevedo o aguardava em Piracicaba. Em fevereiro de 1952, Anníbal e Aparecida se casaram, e depois de uma longa viagem de jipe o casal chegou a nova cidade, onde passariam a residir, Maringá. Logo que se instalou Bianchini tratou de se integrar na sociedade local, onde seus primeiros atos foi participar da fundação do Rotary Club de Maringá.


"E ideia justamente como tinha pouco capital, era comprar mais no sertão, a terra em piracicaba já estava muito cara, então vim para cá, comprei da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. E aquele sistema aqueles vendiam era trinta por cento de entrada, 10 por cento no primeiro ano 20, 20 e 20 por cento no segundo, terceiro e quarto anos. Porque 20% no segundo? Porque pessoal dispunha de pouco dinheiro ainda, não tinha a produção de café. Então eles faziam a prestação mínima para aliviar um pouco o compromisso do comprador e o juro é sete porcento ao ano e não havia inflação." - Anníbal Bianchini em entrevista concedida ao projeto Garimpo, em 19 de março de 2001.


Na Companhia, Bianchini foi designado auxiliar de um engenheiro agrônomo também formado pela ESALQ Luiz Teixeira Mendes. Teixeira Mendes havia acabado de se aposentar como chefe do serviço florestal da Secretaria da Agricultura de São Paulo. Seu prestígio fez ser convidado pela companhia para implantar o projeto de arborização e paisagismo de Maringá. Como mantinha certo grau de parentesco com Hermann Moraes Barros, diretor-gerente da colonizadora, aceitou aquele desafio. Foi ele quem propôs a criação de um horto florestal, por onde seriam cultivadas espécies para o respectivo plantio. Em outubro de 1949, Teixeira Mendes já estava em terras maringaenses para dar cabo aquele arrojado desafio. O horto, por sua vez, nasceu com o objetivo de se transformar em um instituto para botânica regional.


Inicialmente, Bianchini foi morar com sua esposa Aparecida Tereza Azevedo da Rocha em uma das residências destinadas aos funcionários da companhia. Esta residência ficava localizada na Avenida Duque de Caxias esquina com a então Rua Bandeirantes, hoje Joubert de Carvalho, bem em frente ao escritório sede da colonizadora. Alguns anos depois, Bianchini construiu sua primeira casa própria, localizada na rua Mem de Sá, na zona 2, onde a família moraria por 25 anos. O casal teve quatro filhos: Carmem Lúcia, Antônio Carlos, Júlio e Anníbal.

Em 1953, Bianchini também assumiu a responsabilidade de abrir fazendas para a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. O engenheiro agrônomo foi responsável pela condução desses trabalhos em diversas cidades, onde inicialmente a colonizadora cultivou áreas para o plantio do café. Ao longo dos anos, foram 15 fazendas organizadas. Uma delas foi destinada para o cultivo de seringueiras para a produção de látex, a qual gerou excelentes frutos.


Durante alguns anos da década de 1950, Bianchini auxiliou de forma direta Luiz Teixeira Mendes. Foi quando teve a oportunidade de conhecer detalhadamente as espécies que foram definidas para cada uma das vias e logradouros da cidade. Mas como Teixeira Mendes estava em idade avançada, acabou adoecendo e vindo a falecer. Com isso, na tarde de 12 de julho de 1958, a Companhia realizou uma solenidade para homenagear o criador do projeto paisagístico de Maringá, dando seu nome ao horto florestal da cidade. Uma das pessoas a se pronunciar naquele evento foi seu sucessor Anníbal Bianchini da Rocha. Em outubro daquele mesmo ano, a câmara municipal alterou o nome da avenida independência para Luiz Teixeira Mendes, completando o ciclo de homenagens ao engenheiro agrônomo.


A defesa pelo verde da cidade já era uma bandeira hasteada por Anníbal Bianchini da Rocha desde a década de 1950, e sobre isso um fato merece destaque: a companhia a mantinha um pequeno bosque de essências nativas na praça Napoleão Moreira da Silva, quando seu diretor Hermann Moraes Barros começou a criticar publicamente algumas ações do então prefeito Américo Dias Ferraz, este durante a madrugada de 27 de outubro de 1959 ordenou que funcionários públicos destruissem essa pequena reserva de preservação natural. Três dias depois, Anníbal Bianchini da Rocha escreveu um artigo que foi veiculado no Jornal de Maringá com o título: "Triste dia para a árvore", onde teceu pesadas críticas contra aquele ato do prefeito de Maringá.


Como responsável técnico do horto florestal Luiz Teixeira Mendes, Bianchini deu sequência ao plantio de variado número de espécies de árvores por Maringá. Cabe ressaltar que a administração pública municipal assumiria a responsabilidade pela manutenção e arborização da cidade apenas na gestão do terceiro prefeito João Paulino Vieira Filho, no início da década de 1960. Até aquele período, essa responsabilidade estava a cargo da companhia. Quando ocorreu aquela transferência de gestão da iniciativa privada para o setor público, tudo estava rigorosamente em dia, árvores plantadas em todas as ruas e avenidas bem como praças e um horto florestal dotado com estrutura física e equipe técnica para produção de milhares de novas mudas todos os anos.


Devido ao seu relacionamento e excelente trabalho, forjou-se como um líder nato de Maringá. Como resultado, Bianchini foi convidado pelo então governador do paraná Ney Braga para assumir a Secretaria de Estado da Agricultura em substituição a Paulo Pimentel, que concorreria nas eleições seguintes. Anníbalu ocupou a função entre junho de 1965 e fevereiro de 1966. No início dos anos 1970, Anníbal Bianchini da Rocha atuou como consultor técnico para a criação do Parque do Ingá. Com mais de 480 mil metros quadrados, este equipamento que também ficou conhecido como clube do povo, foi inaugurado em dez de outubro de 1971, durante a gestão do então prefeito Adriano José Valente.


Mas o seu amor por Maringá ia além da ferrenha defesa do verde. Bianchini foi o segundo presidente da Santa Casa de Misericórdia por 14 anos, de 1957 até 1971. Fez parte do Conselho de Administração da COCAMAR, integrou também a diretoria da Sociedade Rural de Maringá, os conselhos consultivos do Instituto Brasileiro do Café (IBC) e no Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). Mas houve outra instituição por onde Bianchini conquistou muito destaque, trata-se da Cooperativa de Laticínios de Maringá, a COLMAR. Fundada em 1965, a COLMAR ficava localizada na Avenida Colombo próximo ao atual trevo do Shopping Catuaí. A cooperativa que chegou a possuir 800 cooperados, foi incorporada pela Cooperativa Agropecuária de Londrina em 1998. Durante a presidência de Bianchini empossada em 66, a COLMAR viveu seu auge com modernização no processo industrial, aumento no número de cooperados e ampliação de estrutura física. No final daquela década, a COLMAR recebeu uma importante visita o então ministro da agricultura Ivo Arzua Pereira. A COLMAR era responsável pela produção do famoso Leite Maringá, e no início da década de 1970, foi inaugurada a sua loja para comercializar produtos na rua Santos Dumont. Trata-se do posto um, da Maringá 70.


Na presidência do Sindicato Rural de Maringá, Bianchini ganhou ainda mais destaque como líder. Tendo assumido a função no final da década de 1970, foi releito por diversas oportunidades, ficando no cargo por mais de 30 anos. Nesse sindicato, coordenou memoráveis campanhas em favor do homem do campo. Já na Companhia Melhoramentos Norte do Paraná depois de ocupar a função de chefe do departamento agropecuário, tornou-se diretor-adjunto. Bianchini ficou na colonizadora por mais de 50 anos, estabelecendo grandes amizades com  Gastão de Mesquita Filho, Hermann Moraes Barros, Alfredo Werner Nyffeler, Vladimir Babkov entre diversos outros personagens de destaque na história regional e nacional. 

Em 1976, Bianchini construiu uma nova residência para ele e sua família. Dessa vez, a edificação foi viabilizada na zona 5, ao lado da praça Pio XII. É uma região mais interessante pois é um dos pontos mais altos da cidade e, neste local, ocorreu um fato bastante inusitado: segundo consta, para reduzir a poeira em função dos lotes ainda não ocupados, Bianchini teria plantado grevíleas nas proximidades, bem como Bougainvilles e outras espécies. Como aquilo acabou se tornando um denso bosque, a companhia teve de entrar em acordo com o poder executivo para que a área fosse convertida em um parque público. Hoje, o Bosque das Grevíleas leva o nome de Anníbal Bianchini da Rocha.


Sua liderança e representatividade fez com que disputasse as eleições para prefeitura de Maringá em 1982. Procurado por personalidades de prestígio da cidade como João Paulino, o bispo Dom Jaime Luiz Coelho e o ex-governador Ney Braga, Anníbal Bianchini aceitou o desafio e concorreu pela arena. Acabou sendo o terceiro mais votado com mais de 15% dos votos válidos. Utilizou em sua campanha como símbolo um ipê roxo, distribuindo mais de 100 mil mudas aos eleitores do município.

Sua ética, dedicação e capacidade técnica sempre foram atributos destacados por aqueles que trabalharam direta ou indiretamente com Anníbal Bianchini da Rocha. Além de cidadão benemérito de Maringá, título que recebeu no ano de 1965, em junho de 2003 o "Dr. Anníbal", como era carinhosamente chamado, recebeu o título de cidadão benemérito do Paraná. Muitas outras homenagens e reconhecimentos foram prestados em vida. Em setembro de 2006 por exemplo, em função da criação do Instituto da Árvore de Maringá, houve um reconhecimento público a Bianchini. Com sua humildade ele chegou a declarar: "Agradeço todos os dias ao criador pela oportunidade de ter participado do projeto de arborização que começou com o Dr Luiz Teixeira Mendes, do qual fui assistente. Portanto, participei desde o início quando havia tudo por fazer. Conheço a história de quase todas as árvores de Maringá. Me sinto honrado em receber essa homenagem do Instituto da Árvore, mas o verdadeiro responsável por essa exuberante beleza é Teixeira Mendes". Claro que é importante dizer que Teixeira Mendes nem mesmo Anníbal Bianchini da Rocha trabalharam sozinhos, contaram com o apoio operacional de diversos funcionários, entre eles, Altino Cardoso e Geraldo Pinheiro da Fonseca. Mas, com trabalho desenvolvido por meio do horto florestal, bem como com a implantação do principal santuário ecológico da cidade, aliado ao seu amor e dedicação as árvores, fez com que o Dr Anníbal ficasse marcado com o eterno título de "Jardineiro de Maringá".


O projeto de arborização estruturado pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, com a coordenação técnica de Luiz Teixeira Mendes, e que teve sequência com Anníbal Bianchini da Rocha, resultou na distribuição de espécies que mantém a cidade florida o ano inteiro. E a gente pode desfrutar dessa beleza natural nos dias atuais. Em janeiro temos as tamareiras do oriente e as palmeiras das canárias. Em fevereiro, é a vez das sibipirunas. Março é quando as acácias ganham destaque. Em abril são as quaresmeiras. Maio é quando as paineiras assumem um tom vermelho. Os ipês roxos e amarelos atingem sua floração no inverno, entre os meses de junho julho. Agosto é recoberto com o colorido das patas de vaca. Setembro é dominado pelos flamboyants. O jacarandá mimoso tem espaço em outubro. As tamareiras voltam à cena no final do ano junto das maravilhosas bounganvilles. Obviamente, muitas outras espécies tomam as ruas avenidas e praças da cidade. Esse foi só um exemplo de como o projeto foi muito bem estruturado.


Anníbal Bianchini da Rocha ainda participou de outras entidades da cidade. Sua vida foi de muita dedicação por Maringá. Mas todo começo invariavelmente sempre tem um término. E no final das contas o que importa mesmo é o meio, o caminho percorrido e as experiências vividas. Anníbal Bianchini da Rocha morreu aos 78 anos, em março de 2007, vítima de um câncer. Seu corpo foi velado na Associação COCAMAR, cooperativa que tanto se envolveu ao longo de sua vida.

Agradecimentos especiais a Miguel Fernando Perez Silva e equipe do Maringá Histórica por este belíssimo trabalho feito em homenagem à história de Anníbal Bianchini da Rocha.